Um ponto de vista sobre "O Som do Silêncio (2020)"
Há algum tempo expressei para minha esposa a vontade que eu tinha de assistir um filme onde a retratação de um personagem surdo se desse pela perspectiva dele, dando ao espectador a mesma sensação do personagem. Esse desejo foi plenamente realizado por "O som do silêncio" (The Sound of Metal, 2020) do Diretor Darius Marder, disponível na plataforma de streaming Amazon Prime. Premiado com o Oscar de melhor som e o de melhor montagem, o filme teve ainda a indicação a melhor ator para Riz Ahmed e melhor fotografia.
O Som do Silêncio/Amazon Prime Video/Divulgação |
No enredo, o personagem Rubem (Riz Ahmed), é um baterista que no meio de uma turnê da banda de rock que tem com sua namorada, Louise (Olivia Cooke), se depara com um problema auditivo que o deixa progressivamente surdo. A história se desenrola mostrando as dificuldades da adaptação do protagonista à sua nova situação.
Até aqui, espero ter te convencido a ver o filme. Caso ainda não tenha visto, confere lá e depois volta porque eu ainda tenho muito o que falar do filme, mas não quero estragar sua experiência!
Continuando, agora COM SPOILERS, a peculiaridade deste filme, expressa no nome em português da película, está em proporcionar ao espectador a experiência não apenas do não ouvir, mas do processo como um todo, desde o zunido, quando o problema começa, passando pelo não entender quando todos ao seu redor falam uma língua que você não entende (sinais). A sacada aqui está em não legendar o que se fala em língua de sinais até que Ruben aprenda a linguagem, nos deixando tão perdidos quanto ele. Passamos então pelo aprendizado desta linguagem, que talvez tenha sido encurtado para economizar tempo de tela, até o resultado do tratamento tão desejado pelo protagonista. O diretor tem a perspicácia de não nos deixar “surdos” durante todo o filme, mas apenas em momentos chave, assim, ele não corre o risco de perder o nosso interesse no filme. Ouvimos (ou lemos) o que precisamos para entender a história. O trabalho do diretor aparece brilhantemente também na combinação de sentidos, em cenas em que, saímos da ótica onisciente a que estamos acostumados e, aos poucos, à medida que a câmera sai do todo e passa a focar no nosso protagonista, passamos a “ouvir” o mesmo que ele: o silêncio!
Finalmente, precisamos quebrar aquele velho conceito de “surdo-mudo”. Como explicado no portal libras.com.br, apesar de muitos surdos não falarem, em grande parte das vezes isso ocorre por não terem aprendido a falar. Cada uma dessas condições, entretanto, é independente, podendo haver pessoas surdas que conseguem falar e pessoas mudas que escutam muito bem. Neste contexto, um mentor (Paul Raci), que é surdo mas fala bem e que tem a capacidade de leitura labial, nos guia pelo entendimento deste mundo novo, nos levando a compreender que, nas palavras do personagem, "surdez não é uma deficiência, não é algo para se consertar", mas apenas uma característica que algumas pessoas têm desde o nascimento, outras adquirem durante a vida, mas que todos temos que aprender a respeitar.
Equipe Nerdway 42
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